14/09/2007

O significante precede o significado, assim li que Lacan dizia. Entendi que a gente quando reconhece um significado está dando existência a um significante, que, no entanto, tinha a potencialidade de fazer com que reconhecessemos um significado - ou que o produzíssemos. Essa conjugação me mata! A conclusão que tiro daí, quando me lembro também das vanguardas artísticas cujo propósito era a produção de novos signos (que incluem o significante), é que o papel que o artista cumpre, o domínio onde ele exerce a arte, é o de propiciar essa experiência de criação de significados, pela produção de significantes. Se produzimos significado a partir do reconhecimento de significantes, novos significantes vão forçosamente trazer uma expansão de nossa experiência subjetiva - sim, subjetiva, e ouso dizer individual. Então o criador de novas formas favorece o desenvolvimento da subjetividade em novas "atualidades", ao passo que se pode ver o produto artístico cultural industrial como um estimulador da redundância, do gozo pela reafirmação de experiências já conhecidas pela pessoa, ou que fazem parte de seu repertório subjetivo (memórias, preferências por esse ou aquele estilo). A arte tem, portanto, um papel nobre: favorecer a expansão do sujeito, pela apresentaçào de novos signos, que serão apropriados, criando nova experiência. Daí o sentido de inovação em arte, que não deve se confundir com vanguarda, termo reconhecidamente militar e ligado a avanços territoriais, uma metáfora pobre. Daí, também, que a relevância da arte seja voltada para o sujeito, e não para o objeto, de modo que as contribuições artísticas, desde as cavernas, não se somem como num catálogo ou inventário, mas antes se espalhem, disponíveis ou não para vivência e crescimento de quem venha a conhecê-las. Daí, também, também, que não haja progresso garantido, mas um "evolver" das formas pelos tempos, nem sentidos unívocos, nem hierarquia entre as obras de arte (os produtos culturais industriais, no entanto, de um modo geral, apostam na redundância e são por isso uma categoria à parte, talvez a do artesanato massificado).